sábado, 28 de março de 2009

Nego-me

--------------------------(Estive longe do reboliço dos horários,
--------------------das regras impostas no jogo diário.)


Voltar à minha realidade tem sabor amargo
É tão penoso que provoca a fuga constante.
Vou passar o tempo a negar todas as horas,
minutos e segundos dos dias que me restam.
Vou desejar não estar aqui.
Vou pensar que nunca voltei.

-------------------------(Não quero acordar, colocar os pés no chão
-------------------e voltar à rotina cinzenta dos dias...)

Vou negar o tempo que passa vagarozamente,
partir-lhe os ponteiros, quebrar-lhe as asas.
Posso fazer tudo isso e muito mais.
Mas nada do que faça adiantará,
porque voltar à realidade é, inevitável

-------------------------------(Excruciantemente inevitável)

Ana

Não te vejo
----Não te cheiro
-------Não te toco
----------Não te oiço

(Apenas te sinto nas coisas que me deixaste,
e nem tão pouco deixei de te amar)

Maldita sejas tu, ó Morte, por me a levares!
Maldita sejas tu, ó Vida, por me martirizares!

sexta-feira, 27 de março de 2009

O olhar dos teus olhos

Esse olhar fala-me de viagens.
De lugares distantes.
De vidas imaginárias.
De caminhos esquecidos.
De ilhas criadas.

São lugares onde voltas sempre.
(porque se volta sempre)

Olhar largo, límpido
Sereno e brando
Inocente, cativante
Olhar-Riso

Fecho os meus e busco os teus
(estou agora dentro dos teu olhos)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Novelo

Acordei a cantarolar que nem um pardal ou um pintassilgo, ou seria mais, um canário de olhar esgazeado e voz rasgada, com letras de Mariza Monte e sonoridades de Devestations num quase-filme de Dead Can Dance com tímbalos a encerrar o show. Uma sensação estranha e nada normal, visto não fazer parte da rotina dos meus dias a boa disposição, alegria ou felicidade, ou outros adjectivos terminados em um, Smile. Este não é o meu acordar, definitivamente. Volto a deitar-me virado para lugar nenhum (o meu melhor lado) . Um emaranhado de visões à Maldoror, faz com que o cérebro pareça demasiado grande para o meu crânio. Algumas memórias atingem-me com a força de uma bola de demoliçoes. A memória tem essa força, quanto mais perturbadora mais persistente se torna. Fecho os olhos com força até doer e tento esvaziar a mente. Uma comichão no corpo se apudera de mim. Consolo-me até à chegada do sono.

quarta-feira, 25 de março de 2009

A Dança

Sempre que a música tocava lá vinhas tu preparada a desafiar-me para mais um pé de dança, sabendo bem que eu detestava, pois tinha os pés tortos para tal proeza da dança. Então desistias de mim facilmente e afastavas tudo do teu caminho. E eu, como de costume ficava deitado no sofá, deliciado a ver-te pela sala descalça em rodopios a dançar e a encantar. Nasceste com ritmo. Conhecias todos os passos de todos os géneros musicais. Nunca chegaste a saber o quanto me sentia infeliz por não te poder acompanhar nessa alegria da dança. Ver-te dançar foi uma das mais belas memórias que me deixaste ficar, e que me faz sempre sorrir. Acho que nunca te cheguei a dizer o quanto te gostava de ver assim, feliz.

terça-feira, 24 de março de 2009

O Medo

Todos temos medo.
Tudo nos mete medo.
Crescemos e vivemos na sociedade do medo.
Os políticos metem-nos medo com as promessas.
Os amantes metem-nos medo com as chantagens.
Temos medo porque nos estranhamos a nós próprios.
Temos medo porque estranhamos os outros.
Ter medo é uma defesa inconsciente.

Saudade

Sempre que passo na tua soleira
Recordo tempos nossos
Horas e horas de ditos simples.
E dessa simplicidade
Nasceu cumplicidade
Que perdura até hoje
Ficamos presos um no outro
Erguemos bem alto a bandeira
Do Amor e da Amizade.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Não Vida

Só queria que o tempo parasse para perceber o amanhã.
Como pode isso acontecer ?
É que tenho pouco tempo.
Planeei uma partida para me reencontrar
e retomar o meu caminho.
Mas que caminho ?
Falta-me a coragem de continuar nesta vida
que nunca a senti como minha.
Queria sim...outra !
Mas algo em mim se recusa e,
lamento-me pelo que fiz ...e não fiz.
Sinto-me cansado, dormente.
Talvez desequilibrado.
Já tudo fiz para esquecer mas mais confuso fico.
Onde raio vou eu parar ?
Talvez após morrer eu me possa reencontrar !
Mas não me posso abandonar sem primeiro me entender.
Só quero paz e calma...
na minha mente e na alma.
Apago a luz e adormeço.
Talvez amanhã.

sábado, 21 de março de 2009

Tempo

Tem um tempo que passa, e um tempo que não passa.
O relógio marcava nove e trinca e cinco, quando partiste.

Tenho uma caixa onde guardo as chaves com que davas corda ao nosso tempo. O único tempo que fazia sentido era aquele ao que tu davas corda. Abro-a quando tenho saudades do nosso tempo. Fecho-a, e os nossos corpos voltam-se a separar. Fecho-a, e o nosso tempo volta a parar. Uma caixa simples de chocolates que um dia te ofereci . Fecho os olhos e abro a caixa para te ter novamente comigo .Voltas a dar corda ao nosso tempo. Os nossos corpos voltam a reencontrar-se .

Tem um tempo que passa, e um tempo que não passa.
O relógio marcava nove e trinta e cinco, quando partiste

quinta-feira, 19 de março de 2009

Outra Noite

Alta vai a Noite
E no caminho
Já ninguém caminha
Fica a Noite sozinha
Nem o gato da vizinha
Nem o cão da minha tia
Nem os putos em correria
Nem uma pessoa se avista
Já ninguém caminha...
Traços marcados no caminho da Noite
De quem já caminhou de dia
Nem os bancos de jardim
Nem os candeeiros gentis
Nada...lhes faz companhia
Tudo parece pintado de cinza
E o caminho continua só
E a Noite vai passando sozinha
Quem caminhou...
Já não mais caminha
E assim a Noite passa
Sem ninguém no seu caminho
Nem prostitutas na velha esquina
Nem chulos em gritaria
Agora...sim
Já é dia...talvez logo...
A Noite não seja tão fria
Por agora...
Já toda a gente caminha
Até eu caminho !
O que as pessoas não sabem ...
É que a noite ...é sabedoria !
Que o diga , quem na Noite caminha
Eu...por lá já caminhei
Por isso sei !

Carta à Insónia

Cinco minutos depois das 6, canta a noite sem sono. E mais uma noite ! Deambulo pela casa já de madrugada , uma insónia que tome conta de min . Certamente, quando só no silêncio próprio da noite , inconscientemente acabamos por pensar , e pensar , e pensar ...com ou sem sentido , o que gostaríamos de ter feito, e deixamo-nos cair no esquecimento da hora. É nestas alturas que sentimos a vontade de tudo agarrar, e recriar ...os castelos de criança, já esmagados pelo tempo , falar àqueles que o próprio tempo fez desencontrar, reencontrar o amigo imaginário que fazia companhia quando a mãe apagava a luz do quarto. O medo do escuro deixava de existir ! A menina do lado ,de quem gostava, com quem brincava, sim...bela companheira , e depois penso !!! Poderia lhe ter dado um beijo !!! (se calhar toda a gente já fez esta pergunta !)

Talvez tenha sido melhor assim, ou sido o destino que assim quisesse . Passado estes anos todos, é um pouco estranho tentar encontrar respostas , onde sequer as perguntas já não fazem sentido algum. A nostalgia pode ser saudosa com riso , saudosa com choro, pensando bem... é o que nos faz mover no dia-a-dia (ou não) ! Tudo faz sentido , e ao mesmo tempo deixa de o fazer, olhar para trás e arrepender daquilo que não se fez, não é resposta a nada , a não ser ao nosso ego .E como a noite e o silêncio permite que eu veja as coisas de uma outra maneira ! (mas não será assim com todos nós ? )

Sento-me no sofá , leio mais um pouco, ligo a TV, e faço zapping, mais um cigarro , um copo de água , e a insónia ri-se como se de mais uma vitória tratasse...realmente, é uma vitória ! Pela varanda da sala, ouço ruidosamente o zumbido do reclame de néon e o piscar de luzes irritantes da loja de baixo, que me entram pelas persianas entreabertas. Levanto-me , pego numa maça, a única da fruteira, olho para o relógio, já é tarde, muito tarde, vou até à varanda . A chuva já se foi, a noite ficou amena, mais calma ,uma brisa serena com ecos me chama , é estranho ! Alguém com passadas largas passa do outro lado , cambaleando um pouco apressado, tentando se equilibrar , tenta se manter preso a uma linha traçada no chão pelo seu imaginário , para assim tentar se endireitar, mas o álcool não deixa. Perco-o de vista . Semáforo verde para os peões , uma carrinha em paragem brusca, por baixo da minha varanda, (lá pensou que conseguia passar a tempo...ou talvez tenha sido o cansaço a pregar partidas) . Enquanto espera pelo sinal verde, esboça um sorriso, e fala sozinho, (vá se lá saber em que pensaria), ao cair do sinal partiu acelerado, deixo de o ouvir lá longe, mas ainda pressinto as ténues luzes traseiras. Há vários minutos que nada acontece, a rua assim, é mais minha . Pequenas manchas no Céu parecem conter os traços de um rosto humano com várias feições ! Acabo o cigarro...volto para a sala...e reparo o mesmo de muitas outras noites...

Uma luz que se acende em frente ao meu prédio , o mesmo vulto de muitas noites , anda de um lado para o outro como se sentisse perdido, o mais certo é ser a tal insónia, a mesma que eu me debato. De dia mantém as persianas fechadas, à noite sobe-as , nunca percebi muito bem, se calhar vive de noite ! Nunca me cruzei com ele , estranho ! Só vejo esse vulto nas noites da minha insónia, estranho ! Ponderando bem...poderia ser a minha imagem reflectida no vidro da varanda !!! faz sentido...ou estou a ficar louco ?

Quanto tempo levará a passar a noite?
Talvez o mesmo de ontem !
Quantas marés terei de ondular
Para que ao meu " Porto " eu chegue .
Quantos desertos terei de atravessar
Entre tempestades de areia
E visões da minha imagem
Num Paraíso de ninfas...
Quantas mais insónias terei de suportar ?

O melhor é deitar-me e não pensar !
Para eu contar isto, é que conheço todas as horas de uma
"noite de insónia" !

Corpo

Só com o olhar te despi
Só com um dedo te senti
Nesse teu corpo exausto
Essa falsa beleza, em que eu não vi
mais, do que os teus medos e vícios !
Possesso agora fico, desse teu corpo sofrido,
És o desencanto
És o desespero
Abres as pernas
Gemes de gozo...
Gritas de raiva
Umas vezes violada
Outras...talvez amada
És tudo...e nada !
Puta...
Drogada...
Mas ainda és Mulher !
Vida malvada a tua
pobre de ti desgraçada,
Dói-te o vazio
Dói-te a miséria
Vagueias nas sombras...perdida
Em ruelas, becos , esquinas
Te vendes por um punhado de nada
Desses cabrões que te tomam
Como se fosses apenas um corpo...
mais nada !
Despejam o ódio em ti, crucificam-te em vida
Já nada sentes...falo por ti !
Ah ! Escumalha danada !
E agora teu corpo jaz,
numa cama de lama...
Puta de vida malvada !